A arte de vencer os demônios da alma

A vida nem sempre é um oásis de paz. Há momentos em que nos vemos perdidos em um grande deserto. Nada conseguimos enxergar. Olhamos e só vemos o sol e a areia, o calor e as miragens. Não há sinais de vida que devolvam ao nosso coração a esperança de outrora. Atravessar desertos nem sempre é uma tarefa fácil, pois, nele, entramos em contato com as mais variadas tentações nascidas a partir de nossas mais diversas sedes: desânimo, falta de fé, incredulidade, revoltas interiores, desejos de vingança, poder, ganância, inveja… Podemos dizer que, no deserto, somos confrontados com os nossos demônios interiores que ficam adormecidos em nosso coração esperando o momento certo de acordar, e quando acordam podem provocar uma destruição enorme em nossa alma e, consequentemente, em nossa vida, tanto humana quanto espiritual.

O povo de Deus também percorreu muitos desertos físicos e espirituais. Contudo, foi a confiança na Sua misericórdia e no Seu amor que libertou o povo dessa travessia que, muitas vezes, parecia não ter fim. Esse gesto de libertação marcou, definitivamente, a vida dessas pessoas. Na liberdade, experimentaram o amor concreto de um Deus presente em meio às maiores dificuldades da travessia. Essa libertação deixou marcas profundas na história da salvação. Nada mais seria como antes. Outros desertos iriam surgir, mas eles agora sabiam que não estavam mais sozinhos. Em meio às dificuldades das novas travessias dos desertos que deveriam fazer, tinham plena certeza que Deus caminhava com eles.

Nossa vida é marcada por desertos. Em meio a esses momentos, sentimo-nos, muitas vezes, sozinhos e desamparados. Parece que nunca chegaremos ao final da travessia. Mas é na experiência do povo de Deus que encontramos fortaleza para seguir adiante. Não estamos sós. Somos acompanhados pelo amor de Deus que nos guia constantemente e que nos indica o melhor caminho a ser seguido.

A experiência do deserto também atingiu, de maneira profunda, a vida de Jesus. Após ser batizado no rio Jordão, Ele foi conduzido pelo Espírito ao deserto. Quarenta dias de jejum e de provações marcaram esse tempo na vida de Cristo.

No deserto, entramos em contato com os nossos desejos mais profundos. Para sairmos dele somos tentados a aceitar qualquer oferta que nos garanta uma libertação. Porém, muitas destas propostas são ilusórias. Poderíamos dizer que são miragens, pois se desfazem rapidamente. Não são verdadeiras, mas baseiam-se em nosso desejo de superarmos uma dificuldade de modo fácil e superficial.

Jesus foi tentado pelo demônio. Foi convidado a saciar sua fome, mas seu alimento era divino. Foi tentado a obter poder sobre muitos reinos terrenos, mas seu Reino era do Céu. Foi tentado a desafiar o poder de Deus, mas Ele mesmo era Deus. Cristo venceu a tentação a partir de Suas próprias certezas.

No deserto da vida, somos tentados a saciar nossas sedes de muitos modos, mas a água que nos é oferecida não sacia a nossa verdadeira sede. Os demônios interiores colocam-nos diante de muitas tentações e miragens. Todas estas, porém, ilusórias. Para não se perder é preciso, antes, se encontrar.
Em Cristo e na Sua Palavra somos convidados a nos encontrarmos com a fonte da verdadeira vida. Vencendo os demônios dos desertos da vida faremos a experiência da libertação n’Aquele que é o nosso Libertador.

Colaboração: Padre Flávio Sobreiro

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