O termo eugenia surge do radical grego “eu”, que significa “belo” e “génos” que significa “raça”, “estirpe”; etimologicamente significa “bom nascimento”. Essa teoria dos “belos genes” aparece no século XIX, quando o inglês Sir Francis Galton (1822-1911), primo de Charles Darwin, cunha o termo e o definiu como: “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”, portanto, afirma ser “a ciência da purificação racial”.
Galton também lançou as bases da eugenia após publicar o livro Hereditary Genius (Gênios hereditários – 1833) no qual defende que “talento e capacidade são heranças genéticas”. A ideia fez sucesso em vários países e a maioria dos geneticistas do começo do século 20 adotaram sem problema de consciência a perspectiva de Galton (Morgan, Fischer, Haldane, Muller, C. B. Davenport, K. Lorenz), a tal ponto que foram criadas ‘sociedades eugênicas’ inglesas e nos Estados Unidos planos para esterilizar débeis mentais. Com essa ideia gerou-se o que denominamos de falsa ciência, violência, opressão e assassinato.
Segundo o Dicionário Aurélio, eugenia é a “ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e melhoramento genético da espécie humana”. É a ciência que estuda as possibilidades de apurar a espécie humana sob o ângulo genético. São discriminações fundadas no patrimônio genético, que tendem a considerar a existência de níveis ou graus genéticos melhores ligados a um determinado padrão.
Influência no nazismo
Sabemos das consequências deste princípio como as “leis da eugenia”. A teoria eugênica proposta influenciou o nazismo a criar e implantar sua política autoritária de seleção das raças superiores e eliminação das inferiores; tornou-se parte fundamental da ideologia de pureza racial nazista, a qual culminou no Holocausto. A história da humanidade é rica de ensinamentos a este propósito, assim como afirma o filósofo G. Santayana, “quem não conhece a história está condenado a repeti-la”.
A escolha de algumas características em detrimento de outras, poderia levar ao acirramento dos preconceitos e discriminações, além de trazer a violência a que estão associados esses termos. A escolha de determinados genes (características) certamente haveria o prevalecimento de um padrão racial sobre outros no processo de escolha dos padrões genéticos. Em tal seleção, portanto, acham-se implícitos juízos de valor preconceituosos que seriam inevitavelmente transferidos para as relações sociais.
Em muitas sociedades tem-se utilizado a esterilização obrigatória de pessoas portadoras de deficiências físicas como método de discriminação. Aplicam-se leis que forçam a esterilização de deficientes físicos para “melhorar a raça”.
A eugenia nos dias de hoje
Hoje a eugenia está muito presente quando uma mãe grávida descobre que o filho tem uma deficiência física ou mental, a tendência é abortar esta criança. Existe o horror para com as vidas marcadas pela deficiência. Também quando pensamos que pessoas de determinada cor da pele são superiores às outras, ou que cidadãos de um estado é superior aos de outros estados, são formas concretas de eugenia ou discriminação de pessoas ou grupos em função das características físicas, mentais ou geográficas.
Hoje, muitos preferem usar o termo neo-eugenia para caracterizar o novo tipo de eugenia promovida por meio da engenharia genética, que, com o conhecimento cada vez mais amplo e preciso acerca do genoma humano, tem possibilitado o melhoramento genético do indivíduo e com isto a formação de dois grupos de pessoas, os normais e os melhorados, com a discriminação dos primeiros, a chamada discriminação genética.
A engenharia genética se tornaria parte do sonho utópico do projeto moderno científico e político para refazer o homem de acordo com esquemas de racionalidade perfeita e um corpo perfeito. Em todo o caso, esta mentalidade certamente redutiva, mas presente em diversas intervenções, tende a considerar que existem pessoas que valem menos do que outras.
Atualmente, diversos filósofos e sociólogos declaram que existem diversos problemas éticos sérios na eugenia, como o abuso da discriminação, pois ela acaba por categorizar pessoas como aptas ou não aptas para a reprodução.
Edwin Black, em seu livro “A guerra contra os fracos”, faz uma categórica advertência que não podemos ignorar: “Não importa até onde ou quão rapidamente a ciência se desenvolva, nada deverá ser feito, ou ser permitido, em nenhum lugar do mundo, por ninguém, para excluir, infringir, reprimir ou fazer mal a um indivíduo, com base em sua composição genética. Somente então a humanidade poderá estar segura de que jamais haverá uma outra guerra contra o fraco”.
O que a doutrina da Igreja Católica diz sobre a eugenia?
Defender a eugenia ou a discriminação de pessoas estaria ferindo o estatuto da humanidade e da dignidade humana, também, diz respeito ao fato de o ser humano pretender colocar-se como senhor da vida e da morte, indo contra as leis do Deus Criador. Nesse sentido, o Magistério da Igreja propõe critérios e uma doutrina moral às aplicações da ciência genética que implicam o respeito, a promoção e a defesa do ser humano, seu direito à vida e sua dignidade de pessoa dotada de alma espiritual, criado à imagem e semelhança de Deus, de responsabilidade moral, chamada à comunhão com Deus e com o outro.
Devemos proteger a sociedade contra as ações que criam grupos dos desfavorecidos promovendo a injustiça genética ou a eugenia. A discriminação de pessoas consiste numa agressão à própria humanidade e por isto são ilícitas. Como alerta a instrução Donum vitae: “as novas possibilidades técnicas, abertas no campo da biomédica, exigem a intervenção das autoridades políticas e do legislador, uma vez que um recurso incontrolado a tais técnicas poderia levar a consequências imprevisíveis e prejudiciais para a sociedade civil. A referência à consciência de cada um e à autorregulamentação dos pesquisadores não pode ser suficiente para o respeito dos direitos pessoais e da ordem pública. A eugenia e as discriminações entre os seres humanos poderiam encontrar-se legitimadas. Isso constituiria uma violência e uma ofensa grave contra a igualdade, a dignidade e os direitos fundamentais da pessoa humana”.
Portanto, o que chamamos de eugenia é um atentado ao respeito devido à dignidade da pessoa. O Papa Francisco continuamente vem nos fazendo um apelo para que “rejeitemos tudo o que leva ao preconceito e à discriminação, porque estas coisas já sabemos que não são de Deus”.
Fonte: portal cancaonova.com – Padre Mário Marcelo