Usamos de mais o tempo de falar, e de menos o tempo de ouvir
Parar para ouvir alguém pode ser um dos maiores desafios dos nossos tempos, até porque para ouvir bem outra pessoa é preciso esvaziar-se de si mesmo, e esta tarefa, apesar de trazer muitos benefícios, é pouco apreciada pela maioria de nós. Mas não é só isso, a verdade é que o silêncio tem sido, realmente, escasso em nossos dias. Andamos agitados e envolvidos por tantas coisas que dificilmente paramos para escutar, até mesmo os sons que estão a nossa volta. Dias atrás, vivi, na própria pele, uma experiência que me fez perceber isso com clareza.
Existe um parque, em São Paulo, que costumo visitar, e apesar de estar no centro da cidade, parece-me bem tranquilo e silencioso. Porém, fui lá para gravar um programa com a TV Canção Nova, que precisava de silêncio. Fiquei admirada com a quantidade de barulho que ouvimos! Havia aviões sobrevoando o parque, pessoas conversando alto, barulho do cortador de grama e tantos outros ruídos, que foi impossível continuar a gravação. Saí de lá pensando: “Por que será que não ouvi isso antes?”. Compreendi que era justamente, porque eu não havia silenciado. Quando estamos envolvidos pelo barulho, um ruido a mais ou a menos faz pouca diferença.
Tenho aprendido que escutar é uma das artes mais belas que o ser humano pode desenvolver, até porque uma vida saudável, espiritualmente falando, passa inevitavelmente pela dinâmica da escuta. A própria Palavra de Deus ensina: “Existe um tempo para cada coisa debaixo do Céu… tempo para falar e tempo para ouvir” (Eclesiastes 3). Só que estamos usando de mais o tempo de falar, e de menos o tempo de ouvir. Talvez, seja por isso que muitas pessoas têm morrido na solidão por falta de alguém que as escute.
Exercitar o ouvir
É assustador, mas infelizmente é verdade. E nós, eu e você, podemos mudar essa realidade adotando pequenos gestos. Usar menos o fone de ouvidos, por exemplo, e prestar mais atenção nas pessoas, seja em casa ou na rua, já é uma boa dica. Desconectar-se das redes sociais quando chegar em casa e “dar ouvidos” a quem é real e está ao seu lado, também vai ajudar muito. Desacelerar o passo para ouvir quem lhe pede uma informação também pode dar um novo significado ao seu dia. São atitudes bem simples, que podem até parecer insignificantes, mas experiências compravam que podem salvar uma vida. Acredito que a grande questão é voltarmos a nos interessar pelas pessoas.
Parece que temos perdido um pouco a noção de que precisamos uns dos outros e que os laços que nos unem de um ponto a outro do universo se fortalecem pela acolhida. É preciso ouvir a pessoa! Não o que dizem dela ou o que imaginamos a seu respeito, mas a escutar com o coração aberto, desarmado. É mais do que simplesmente ouvir palavras, é acolher a pessoa do jeito que ela está, com suas dores ou alegrias, e dar-lhe o direito de se expressar sem a preocupação de ser julgada ou rejeitada. É exigente, eu bem sei, mas benéfico! Quando escutamos o outro, também aprendemos com ele, crescemos com suas experiências e evitamos muitos erros.
Intimidade com Deus
Tenho experimentado que silenciar para realmente ouvir, em meio à rotina acelerada dos nossos dias, é muito mais do que uma estratégia psicológica, é uma necessidade que, conscientes ou não, trazemos na alma, pois é no silêncio que aprofundamos nosso relacionamento com Deus, conosco e, consequentemente, com os outros. É desafiante, mas possível, pois se nos empenharmos no relacionamento com Deus, Ele mesmo nos dará a graça necessária para vivermos esta e outras experiências maravilhosas. Pois quanto mais íntimos de Deus nos tornarmos, mais silenciosos e acolhedores também vamos ser. E quanto mais ousarmos confiar plenamente no poder do Seu Espírito que habita em nós, mais veremos a verdadeira cura acontecer tanto em nós como através de nós nos outros.
É bom lembrar que Jesus, mesmo sendo Deus, muitas vezes fazia pausas em Sua missão e retirava-se para se reencontrar com o Pai e consigo por meio da oração e do silêncio. Se estamos buscando crescimento espiritual e uma melhor qualidade de vida emocional, precisamos seguir seu exemplo e ajustarmos nosso compasso entre “o tempo de falar e tempo de escutar”, sabendo que só conseguiremos ouvir a voz de Deus se nossos ouvidos estiverem treinados para ouvir as pessoas.
Fonte: portal cancaonova.com – Dijanira Silva – Missionária da Comunidade Canção Nova