Muitas são as respostas possíveis diante desta questão: quem há de mudar o Brasil? Mas é preciso encontrar a indicação capaz de efetivamente levar à superação dos descompassos que conduzem todos ao caos. Buscar a solução assertiva é desafio exigente. Tarefa a ser assumida por todos. Se houver resposta adequada a essa interrogação-chave, a solução pode desencadear transformações profundas, vencer cenários que ameaçam a vida. O primeiro passo é superar o entendimento de que apenas uma pessoa tem o poder de transformar o Brasil. O contexto contemporâneo, tão complexo, necessita muito mais que a ação de um indivíduo para promover a virada
civilizatória almejada por todos.
Transformar o Brasil exige agregação, integração. Dos líderes, espera-se competência para gerar harmonia, qualidade humana e espiritual que é vetor de mudanças. Não existe lugar para pessoas com perfis que investem nas submissões ditatoriais, lideranças fanáticas que fazem promessas impossíveis de cumprir. A realidade é complexa e as propostas são simplórias, revelando as limitações de seus autores, que agem como “marinheiros de primeira viagem”. Os “barcos” são as muitas instituições nas quais exercem a liderança.
É preciso investir no Brasil
Escolhas ultrapassadas, ancoradas em um tempo que já passou, podem ser sinal de covardia, ou falta de competência humana e espiritual. Em vez de se optar pelos caminhos ditatoriais e absolutistas, é imprescindível investir no entendimento e na agregação, a partir de parâmetros humanísticos límpidos. Essa é a via que leva a transformações necessárias e a respostas novas, impossíveis de serem encontradas por quem simplesmente ocupa uma cadeira, possui título ou é considerado “a bola da vez”. É preciso investir em processos educativos, para além dos parâmetros formais de ensino. Processos relacionados a uma profunda transformação cultural, com impactos nos modos de ver e de agir de cada cidadão.
Sem esse investimento, as instituições permanecem enjauladas na mediocridade de indivíduos. Lamentavelmente, prevalece o personalismo que sacrifica diferentes organizações, submetendo-as à irracionalidade, desfigurando-as, tornando-as cenários de vaidades. Um risco que ameaça também os poderes da República e as instituições
religiosas. É preciso superar esse quadro com inovações capazes de libertar a sociedade das amarras ideológicas que prometem soluções fáceis para problemas complexos. No mundo do empreendedorismo, por exemplo, prevalece a submissão à idolatria do dinheiro, que se desdobra em uma economia da exclusão. A todo custo, busca-se a
riqueza, mesmo que isso signifique mais desigualdade social, sacrifícios à Casa Comum e aos mais pobres. O dinheiro passa a ser o deus que tudo conduz.
Grandes mudanças levam tempo para serem consolidadas
E assim se perpetua a injustiça social, que gera violência, impedindo avanços civilizatórios. No campo político, os ideais republicanos deixam de ser parâmetros para projetos e ações. E a autoridade política ignora a sua real missão: servir a comunidade, o povo a quem deveria representar. Configura-se, assim, a necessidade inadiável de uma
ampla qualificação, em diferentes segmentos, para reformular os funcionamentos institucionais e fortalecer a esperança em um tempo melhor. A qualificação que requer investimentos urgentes deve contemplar o desenvolvimento da capacidade de conviver civilizadamente, cultivando a fraternidade nas relações.
Essa mudança que todos esperam é um processo que não se efetiva da “noite para o dia”. Assim, para responder à questão “quem pode mudar o Brasil?”, é fundamental ter a clareza de que as transformações almejadas pedem o compromisso de todos para encontrar e trilhar novos caminhos. Não se chega a lugares diferentes pelas mesmas estradas. Por isso, cada pessoa deve assumir novas posturas a serem vividas e testemunhadas, na construção de transformações sociais profundas. Definitivamente, não está, pois, nas mãos de um indivíduo, mas nas atitudes de todos os brasileiros, a força para mudar o Brasil.
Fonte: portal cancaonova.com – Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é presidente da CNBB