Flexibilidade: a sabedoria de permitir-se agir diferente diante de um inesperado.

É bem verdade que precisamos de organização, regras e rotinas. Por outro lado, a observância desses conceitos sem flexibilidade, pode nos tornar rígidos, a ponto de atingirmos a indiferença e quem sabe a desumanidade. Para que isto não acontece, a qualidade norteadora que precisa sobressair é flexibilidade. De forma simplificada, flexibilidade é a qualidade daquilo que se dobra sem se romper, como por exemplo, o cabo carregador do celular que você usa é flexível: você o dobra para por no bolso ou numa mala de viagem e diante da necessidade de carregar seu aparelho celular, você o retira, esticando-o, conecta em uma tomada e ele funciona para realizar o carregamento do aparelho. Desta forma, ele se dobrou mas não se rompeu, não quebrou. Em termos humanos, uma pessoa flexível também “se dobra, mas não se rompe” – ela tem organização, regras e rotinas, mas se necessário for, ela flexibiliza (se permite mudar um trajeto uma vez ou outra, não se pune porque um dia chegou atrasada ao trabalho, não “explode” porque aquele compromisso foi adiado…) Flexibilidade não é deixar de ser quem é, mas permitir-se agir diferente diante de um inesperado ou quebrar uma regra diante de um bem maior a ser feito.

Sobre flexibilidade, existe um bom exemplo a ser observado no evangelho de São Marcos, quando Jesus diante do cansaço próprio e dos seus discípulos, diz para eles: “Vinde vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6, 31). Mas como isso não foi combinado com o povo, vendo-os partir, os seguiram e alguns chegaram até mesmo antes deles. “Assim que Ele desembarcou, viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6, 34). Jesus e seus discípulos precisavam descansar? Era um justo descanso, uma vez que estavam vindo de dias de muito trabalho? Certamente é sim a resposta para estas perguntas. E aqui é onde entra a palavra flexibilidade. Ser flexível não é viver uma vida vida bagunçada, sem regras, sem rotina. É viver sob tudo isso, mas aberto ao inesperado, que no caso deles, foi que aquelas pessoas “estavam como ovelhas sem pastor”. Aqui alguém poderia sugerir que as pessoas poderiam esperar eles descansarem. Mas alguns detalhes não permitiam isso, como por exemplo: eles estavam numa região deserta, afastada de tudo. Eles assim levaram em conta o desgaste daquelas pessoas. Aliam haviam homens e mulheres, idosos, doentes e crianças. Sacrifícios enormes foram feitos. Releia o que escrevi no final do primeiro parágrafo: “Flexibilidade não é deixar de ser quem é, mas permitir-se agir diferente diante de um inesperado ou quebrar uma regra diante de um bem maior a ser feito”. Estava em jogo “um bem maior a ser feito”. E neste caso, é hora de flexibilizar as coisas e assim Jesus e seus discípulos o fizeram.

Como saber se o que estou vivendo é desorganização ou flexibilidade? Entenda que flexibilidade não é algo comum. O comum é uma vida organizada, com regras, com rotina. Flexibilidade é o extraordinário, quando um bem maior precisa ser feito. Para exemplificar, chegar atrasado ao trabalho todos os dias não é o comum. O comum é chegar no horário. Mas chegar atrasado um dia porque houve a necessidade de dar um socorro a alguém que passou mal e você era o único que poderia fazê-lo é algo extraordinário. Ou ainda, atrasar a chegada porque o transporte público atrasou ou seu veículo quebrou. Outro exemplo bom é quando se deixa de sair com a(o) esposa(o) por que está de fato precisando ficar em casa para descansar. Esta situação é extraordinária; mas deixar de sair por que simplesmente não está a fim ou não gosta daquele lugar, não é comum. O comum é flexibilizar, por amor e respeito ao outro e não simplesmente querer que somente o outro faça o que eu quero. Gosto de uma frase atribuída a Chiara Lubich, fundadora do movimento Focolares: “O amor se dobra para não se romper”. É impressidível tomar cuidado para não viver uma “falsa flexibilidade”, ou seja, ir dizendo sim para tudo (inclusive caprichos, manias, preguiça, vontades) ou sendo “bonzinho”, abrindo excessões constantemente; isso na prática é bagunça e mais cedo ou mais tarde, quem vive na bagunça, sem regras, sem organização, sem rotina vai romper consigo próprio e com aqueles à sua volta. A flexibilidade só é uma bênção quando vivida no extraordinário.

Edson Oliveira

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