É preciso que cada cristão faça a sua reflexão e vote consciente
Caro internauta, no primeiro artigo, tivemos a oportunidade de fazer uma rápida viagem à Grécia antiga e conhecer um pouco mais sobre a origem da política. Agora, vamos fazer essa viagem de volta aos nossos dias para descobrir qual é o papel dos cristãos diante dela.
Para introduzir o nosso tema, quero citar uma fala proferida pelo Papa Francisco, no dia 7 de junho de 2013, durante um encontro com os representantes das escolas Jesuítas na Itália e na Albânia. Perguntado como deve ser o compromisso do cristão no mundo de hoje, o Sumo Pontífice afirma o seguinte: “Para o cristão, é uma obrigação envolver-se na política. Nós, cristãos, não podemos fazer como Pilatos, lavar as mãos. Não podemos!”.
Esse “envolver-se” com a política, não significa apenas se coligar a um partido político para se tornar candidato a algum cargo público. Política é muito mais que isso. Segundo o próprio Papa Francisco, a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum.
Obviamente, os cristãos leigos não estão isentos de envolver-se com a política mais diretamente, pelo contrário, ele deve envolver-se, deve trabalhar na política e pela política. O Papa Francisco considera esta, uma missão especial. Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão leigo.
Como os cristãos leigos devem se portar diante das autoridades políticas?
O parágrafo 2239 do Catecismo da Igreja Católica aponta para outro dever do cidadão frente à política: colaborar com os poderes instituídos para o bem da sociedade. Assim, os cidadãos devem reconhecer, respeitar e se submeterem às autoridades legítimas. Com relação à submissão, a Epístola de Romanos nos traz uma orientação: “Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus” (cf. Rm 13,1).
Diante dessa realidade, podemos afirmar que cada cristão é corresponsável pela política do seu bairro, cidade, estado e país e, por conseguinte, pelo bem comum. Essa corresponsabilidade comporta, além de muitos outros deveres, o exercício do direito de voto e a defesa do país. Defender o país significa votar bem, com consciência e segundo os princípios morais.
O cristão não deve rechaçar o político, mas colaborar para com ele, estabelecer uma relação de parceria, de alguém que cobra e que se mostra presente. O cidadão cristão deve, acima de tudo, rezar pelos políticos e não aceitar, em hipótese nenhuma, o enfraquecimento da moral cristã por parte dos representantes do povo.
Quando os cristãos NÃO devem obedecer às autoridades políticas?
Que a obediência às autoridades políticas legitimamente constituídas é um dever de todos os cidadãos, disso não se tem dúvida. Contudo, essa obediência não pode ser vivida cegamente, isso seria um grande perigo. O Catecismo da Igreja Católica apresenta uma posição bastante contundente para aqueles casos em que são criadas prescrições “contrárias às exigências de ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho”. Nesse caso, o cristão não apenas pode não as seguir, mas está obrigado a isso (cf. CIC 2242).
Em suma, a obediência deve estar sempre pautada pela moral do Evangelho. É justamente por isso que faz parte da missão da Igreja pronunciar “um juízo moral, mesmo acerca das realidades que dizem respeito à ordem política, sempre que os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem” (cf. CIC 2246).
Qual o papel próprio da política tendo como princípio o pensamento cristão?
Em primeiro lugar, “a comunidade política tem o dever de honrar a família”, protegendo essa fundamental instituição para sociedade. Além disso, a classe política deve esmerar-se para garantir a liberdade de o indivíduo em “fundar um lar, ter filhos e educá-los de acordo com as suas próprias convicções morais e religiosas” (cf. CIC 2211).
Outro aspecto essencial que a comunidade política deve promover é a liberdade individual de professar a fé. Os pais têm o direito de transmitir sua fé e educar nela os seus filhos, com os meios e as instituições necessárias. Deve respeitar também o direito à propriedade privada e a liberdade de se obter um trabalho. Sem falar do direito aos cuidados médicos, a assistência segurança pública.
Bom, todas as orientações que a Igreja Católica dá aos seus fiéis na esfera política é clara e direta. Caso essas orientações não encontrem consonâncias com a realidade, é preciso que cada cristão se questione seriamente. O que pode ter acontecido? Em que ponto da ferrovia o trem se descarrilhou? Por que a política está desse jeito tão suja? O Papa Francisco, por meio de um questionamento, dá-nos uma preciosa pista: “Não será por que os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico?”. Quero finalizar esse artigo deixando sem resposta essa pergunta do Papa Francisco.
Algumas provocações
Aproveito para lançar mais duas perguntas bem provocadoras: que tipo de cristão nós estamos sendo na política? Estamos elegendo políticos que se comprometem em defender a moral e os bons costumes?
Fonte: portal cancaonova.com – Gleidson de Souza Carvalho