Sociólogo comenta por que “Pokémon Go” fez tanto sucesso e cita os prós e contras
Por Alessandra Borges
No início deste mês de agosto, chegou ao Brasil o jogo Pokémon Go, que logo virou uma febre entre as pessoas que são fãs de jogos on-line.
Para conhecer um pouco mais sobre esse jogo, que atraiu a atenção e principalmente a curiosidade de muitas pessoas e da mídia, o Portal Canção Nova entrevistou o doutorando em sociologia e fundador da Oficina de Valores, Alessandro Garcia, que comentou sobre essa nova realidade que os avanços tecnológicos e a internet proporcionam à sociedade.
cancaonova.com: O Pokémon Go é um jogo de celular com realidade aumentada e que já virou uma febre no Brasil. Até que ponto ele é interessante para o jovem?
Alessandro: Se julgarmos interessante como aquilo que gera interesse, Pokémon Go é muito interessante para uma grande parcela da juventude. Só nos EUA, o jogo possui mais de 22 milhões de jogadores. O interesse pelo jogo decorre de vários fatores: o sucesso anterior da franquia de jogos e das animações, a sensação de materialização da imaginação, por causa da tecnologia da realidade aumentada, o apelo à aventura, o desejo de colecionismo (conseguir todos os pokémons).
Isso, é claro, não significa que o jogo seja uma unanimidade, mesmo entre os jogadores de vídeo-game. Há várias críticas. Há jogadores que consideram essa a mais vazia das jornadas Pokémon, visto que o jogo propicia poucas alternativas. Agora, se consideramos interessante como algo bom para a juventude, devo dizer que o jogo em si mesmo é neutro. O uso é que vai fazer com que seja algo positivo ou negativo.
cancaonova.com: Quais os “benefícios” que esse jogo pode trazer para as pessoas? É possível estimular uma interação entre essas pessoas por meio de grupos e fóruns de bate-papo? Como é possível fazer desse jogo algo positivo e interativo para o bem-estar das pessoas?
Alessandro: Com certeza, as possibilidades positivas são muitas, em vários níveis. As possibilidades econômicas do jogo são muitas. Penso, por exemplo, no potencial turístico, visto que há pokémons que só são encontrados em alguns países ou cidades.
Pensando mais nos indivíduos, acredito que Pokémon Go pode fomentar a convivência. É algo que é jogado na rua, e isso permite encontros e descobertas. Isso vai na contramão de um entretenimento vivido apenas no sofá, de forma solitária. Há um depoimento circulando na internet de uma pessoa que passava por uma depressão e encontrou, no jogo, uma distração que a motivou a sair de casa e conviver com os outros. Um outro benefício, frequentemente mencionado, diz respeito à quebra do sedentarismo que o jogo provoca.
Vale ressaltar que todos esses benefícios são possibilidades que podem ou não se realizar, dependendo da forma como o jogador venha a relacionar-se com o aplicativo. Em termos mais gerais, ainda é difícil falar quais serão as consequências, visto que faz muito pouco tempo que o jogo foi lançado.
cancaonova.com: Todos os lugares terão pokémon, para quem tem o jogo em seu smartphone. Como definir quais lugares não são apropriados para começar a caça?
Alessandro: Esse é um ponto interessante, que, a meu ver, transcende o jogo. Vale para o uso de celulares e tablets. Não é incomum ver pessoas com o celular ligado em ambientes onde é recomendado que não se faça isso. Penso em cinemas e teatros, por exemplo, ou cerimônias religiosas. O risco de tais tecnologias é fazer com que não estejamos presentes no lugar onde estamos, e isso não é algo educado nem mesmo saudável. Diante dessas situações, lembro sempre das palavras de um pensador espanhol que dizia ser importante “fazer o que se deve e estar no que se faz”.
Em boa parte dos casos, penso que o bom senso e a educação são suficientes. Lembro, por exemplo, de um passeio noturno que fiz às Cataratas do Iguaçu, no qual a guia pediu que não tirássemos fotos com flash, porque poderia ferir os olhos das outras pessoas. Várias pessoas ignoraram o aviso e tiraram fotos. O que faltou? Exatamente a educação e o bom senso que mencionei.
É importante mencionar que, cada vez mais, o relacionamento com jogos e aplicativos tem sido algo compulsivo. Há vontade de olhar a todo instante, de não tirar os olhos do celular. Isso ocorre com Pokémon Go, com WhatsApp, Facebook… Essa relação de dependência é algo preocupante e nem sempre fácil de corrigir. Penso que o melhor que podemos fazer, além de buscarmos agir de maneira mais saudável e livre, é educar as crianças para a temperança. Não é incomum pais deixarem os filhos jogando no celular, para que fiquem quietos. Embora seja compreensível, as consequências a longo prazo não são boas.
cancaonova.com: Quais os riscos que esse jogo pode trazer diante de uma possível alienação, ou seja, deixar-se conduzir pela realidade que o jogo apresenta?
Alessandro: Recentemente, escrevi um texto para o blog da Oficina de Valores, no qual abordei esse assunto. Vou me permitir citar um pequeno trecho:
“Sobre o potencial alienante do jogo, não é possível dizer que ele não exista e está ligado ao risco de alheamento da realidade apontado acima. Contudo, é importante não cair em uma crítica simplista e chamar de alienados aqueles que têm meios de entretenimento diferentes dos meus. Cada um possui suas superficialidades. Ninguém vive apenas no profundo e no sério. O lúdico é uma parte importante da vida. O problema ocorre quando ele se torna toda uma vida. E isso pode acontecer com Pokémon Go, com o futebol, com o cinema, com jogos de baralho… Colocando de maneira mais direta, dificilmente algo é ruim em si mesmo. Na maior parte das vezes, o problema está no uso ou, para colocar de uma forma mais explícita, no abuso.
Fonte: Portal cancaonova.com