O Novo Testamento não substitui o Antigo Testamento, mas o completa
Podemos encontrar, na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, documento do Concílio Vaticano II, que trata sobre a Sagrada Liturgia, a participação da leitura dos Textos Sagrados na celebração litúrgica: “É enorme a importância da Sagrada Escritura na celebração da Liturgia, porque é a ela que se vão buscar as leituras que se explicam na homilia e os salmos para cantar. Com o seu espírito e da sua inspiração nasceram as preces, as orações e os hinos litúrgicos; dela tiram a sua capacidade de significação as ações e os sinais”. E é este o caminho pelo qual os fiéis podem cultivar suas virtudes humanas e cristãs por meio da leitura dedicada e da meditação íntima da Bíblia Sagrada. Neste artigo, damos continuidade ao estudo sobre a origem da Bíblia, tratando do Novo Testamento.
O Evangelho é o relato da Boa Nova trazida por Jesus Cristo e também do que pregaram os apóstolos por todo o mundo. Importante lembrarmos que o Novo Testamento não substitui o Antigo Testamento, mas o completa. O que se lê no Evangelho é o cumprimento das promessas de Deus ao seu povo, nas palavras de Jesus Cristo: “É preciso que se cumpra tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24, 44). Segundo a tradição apostólica, ao ser incluído nas Sagradas Escrituras, seja no Antigo ou no Novo Testamento, os livros inspirados por Deus são recebidos por autoridade pela Igreja por refletir a fé e a vida cristã. E é dessa inspiração divina que se reconhece a veracidade dos livros sagrados.
A mensagem de salvação de Jesus Cristo começou a ser registrada por escrito pelas diversas cartas de São Paulo, entre os anos de 50 e 60 d.C., que ensinavam sobre a vida cristã. E também outros apóstolos escreveram cartas às comunidades que haviam fundado, como Pedro, Tiago, João e Judas. Esses apóstolos carregavam consigo coleções escritas das palavras de Jesus, sendo que algumas dessas coleções parecem estar presentes integralmente nos Evangelhos de Mateus e Lucas, porque seus relatos, muitas vezes, coincidem de forma literal nas transmissões dos ensinamentos de Jesus. Nessas coleções, encontramos também relatos dos acontecimentos mais importantes na vida de Jesus, em especial Sua morte e ressurreição, que compõem os fundamentos da fé cristã. Os relatos sobre milagres foram escritos com fins catequéticos e doutrinários, relatando até mesmo o nascimento de Jesus (Mateus e Lucas) e o seu batismo no rio Jordão (Marcos e João).
Esses escritos surgiram na segunda metade do século I e eram dirigidos às comunidades. Uns se valiam da revelação de Jesus Cristo aos seus autores, outros se mostravam testemunhos deixados por aqueles que haviam sido testemunhas da vida de Jesus ou por aqueles que haviam escutado o que contavam os apóstolos. Já nas primeiras décadas do século II, esses escritos foram se propagando pelas igrejas e sendo reunidos. A primeira coleção a se formar como a conhecemos se deu pela reunião de todas as cartas de São Paulo aos Coríntios. Na metade deste mesmo século, um presbítero de Roma propôs como norma para a Igreja a leitura de dez das cartas de São Paulo e o Evangelho de Lucas. Nessa mesma época, São Justino deixou registros de que os cristãos se reuniam aos domingos para ler sobre os profetas e as “Memórias dos Apóstolos”, que, por seus próprios registros e outros da mesma época, pôde-se entender que São Justino se referia aos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, que já eram conhecidos na maioria das igrejas.
Os quatro Evangelhos
Foi no ano de 180, que Santo Ireneu de Lyon, conhecedor das igrejas do Oriente e do Ocidente, estabeleceu, pela primeira vez, que os Evangelhos são quatro e apenas quatro, o que reafirmou Orígenes de Alexandria no ano 200. A partir dessa época e ao longo dos séculos III e IV, espalhavam-se pelas igrejas os quatro Evangelhos, o livro dos Atos dos Apóstolos, as cartas de São Paulo e o livro do Apocalipse. Esses livros se juntaram então àqueles recebidos dos judeus, momento em que Santo Ireneu e Tertuliano usaram os termos Antigo Testamento e Novo Testamento para diferenciá-los.
A primeira vez que surge a lista de livros bíblicos como os conhecemos hoje foi na 39ª Carta Pascoal de Atanásio, no ano de 367. Esta lista foi seguida por Santo Agostnho, sendo proposta no Concílio de Hipona no ano de 393 e no III Concílio de Cartago em 397. O Papa Inocêncio I confirmou essa lista em uma carta a Santo Exupério, bispo de Tolosa, no ano de 405. Foi então no Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, que definiu exatamente os livros que compõem o Novo Testamento. Dessa forma, por um longo processo guiado pelo Espírito Santo, firmava-se a tradição apostólica e a identidade da Igreja. O termo “testamento” vem da palavra grega diatheke, que significa “aliança”. Não nos deixemos esquecer de que Jesus Cristo é o filho de Deus, é a Palavra viva e verdadeira de Deus aos homens na celebração da Nova Aliança.
REFERÊNCIAS
A BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. 86 ed. São Paulo: Paulus. 2012.
SACROSANCTUM CONCILIUM. Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia. Concílio Vaticano II. Disponível em: < http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>
SAGRADA BIBLIA [livro digital]. Facultad de Teología Universidad de Navarra. Editora EUNSA; Edição: 1 (14 de outubro de 2016)
Fonte: Portal cancaonova.com – Luis Gustavo Conde, Advogado com atuação na área de Direito de Família